quarta-feira, 30 de setembro de 2015

POLÍTICA AS CRIANÇAS - Rubem Alves

Explicando política às crianças
Texto de Rubem Alves

“Houve uma briga na floresta acerca da dieta a ser adotada por todos os bichos. De um lado estavam as vacas, as ovelhas, os patos, as galinhas, as girafas, os macacos, os bichos-preguiça, que diziam que a melhor dieta era a vegetariana, capim, folhas, flores, frutos. Alegavam que as coisas que cresciam da terra eram ricas em vitaminas e faziam bem à saúde. Do outro lado estavam as piranhas, as hienas, os gambás, os lobos, as onças que, ao contrário, afirmavam que o melhor mesmo era uma dieta de carne, porque a carne é rica em proteínas, que são fontes de energia. ‘Quem come carne é mais forte’, diziam.
A briga fez tamanha confusão que os bichos resolveram decidir o assunto por meio da coisa mais democrática possível. “Vamos fazer uma eleição!” Todos concordaram. “Pela eleição vamos escolher os bichos que vão decidir a questão, por meio de leis”. Todos concordaram de novo. E assim aconteceu. Formaram-se dois partidos. Os vegetarianos deram ao seu partido o nome de “Partido das Bananas”, porque as bananas, sem dúvida alguma, são as frutas que melhor representam a alma dos vegetarianos. Todo vegetariano gosta de banana. Além disso, há bananas em abundância na floresta. Ninguém ficará com fome. Os outros bichos se reuniram e pensaram que o nome do seu partido deveria ser “Partido do Churrasco”. Pois essa era a verdade: eles gostavam de comer carne. E o seu símbolo deveria ser uma linguiça. “Partido da Linguiça”: só de falar o nome a boca se enchia d'água…
Mas os carnívoros eram espertos. Sabiam que a verdade nem sempre deve ser dita. Perceberam que nenhum membro do Partido das Bananas iria votar num candidato do Partido da Linguiça. Por uma razão simples: os bichos vegetarianos seriam aqueles que seriam transformados em churrasco. Os bifes das vacas, as lingüiças dos porcos, os peitos dos francos, os perus assados, as coxas dos avestruzes… Todas as pesquisas do IBOPE indicavam que os vegetarianos ganhariam as eleições, por serem em número muito maior que os carnívoros. Assim, astutamente, reuniram-se para saber o que fazer. Um camaleão chamado Duda, carnívoro, apreciador de rinhas de galo, o sangue sempre o excitava, pediu a palavra: “Companheiros”, ele disse, “guerras são ganhas enganando-se o inimigo. Essa é uma lição que aprendemos dos humanos. Os soldados se camuflam para chegar perto de suas presas. Vestem-se de forma a parecer árvores e folhagens. Quando os inimigos se dão conta é tarde demais. É assim que eu faço. Mudo de cor. Fico parecendo um galho de árvore. O inseto só me percebe quanto minha língua visguenta o lambe. Queria sugerir, então, que usassem a minha tática. Se nos proclamarmos carnívoros os vegetarianos não votarão em nós. Vamos nos fantasiar de vegetarianos!” Todos aplaudiram a brilhante reflexão do camaleão Duda e resolveram dar ao seu partido um nome bem ao gosto dos vegetarianos: “Partido dos Abacaxis”. Todo mundo gosta de abacaxis, tão doces, tão perfumados, tão brasileiros. E assim foi. Iniciou-se, então, a campanha do Partido das Bananas contra o Partido dos Abacaxis. Os vegetarianos faziam comícios em que bananas eram distribuídas por todos. As galinhas, os patos e os perus não perdoavam nem mesmo as cascas… Os carnívoros promoviam grande churrascos só que, ao invés de picanhas sobre as brasas, eram abacaxis sobre as brasas. Faziam churrasco de tudo quanto é vegetal. Além dos abacaxis, bananas, pinhões, batatas, mandioca, cebolas, tomates, pimentões. Assim, os dois partidos tinham o mesmo programa: dieta vegetariana para todos.
Os membros do Partido das Bananas sentiram, de longe, o cheiro bom dos churrascos dos Partido dos Abacaxis. E começaram a se aproximar. Perceberam que os membros do Partido dos abacaxis não eram tão maus quanto se dizia. Chegaram mais perto. Provaram. Gostaram. “É, churrasco de banana é mais gostoso que banana crua”, disseram. E até os macacos aderiram.
Aí veio a eleição. É preciso não esquecer que eleições têm por objetivo escolher aqueles que terão o poder de fazer as leis. Eleitos democraticamente, decidiriam democraticamente a dieta de todos os bichos. As decisões dos representantes seriam leis para todos. Ao dar aos seus representantes o poder para decidir, os bichos estavam, com esse ato, abrindo mão do seu direito de decidir. Depois de feitas as leis só lhes restava obedecer.
Empossado o congresso, os representantes elegeram o seu presidente. O bicho que recebeu mais votos foi a Hiena, famosa por seu senso de humor: estava sempre dando risadas. Na sua posse ela fez um lindo discurso sobre as excelências da dieta vegetariana. E para terminar deu uma aula de filosofia. “Como disse o filósofo alemão Ludwig Feuerbach, nós somos o que comemos. Vacas e veados comem capim; portanto são capim. Macacos comem banana; portanto são bananas. Galinhas e patos comem milho; portanto são milho. Pássaros comem alpiste; portanto são alpiste. Assim, onças que comem vacas e veados estão, na verdade, comendo capim. Uma cobra que come um macaco está, na realidade, comendo bananas. Um gambá que come galinhas está, na realidade, comendo milho. E um gato que come passarinhos está, na realidade, comendo alpiste. Assim sendo, e em cumprimento às promessas que fizemos no período eleitoral, proclamo a lei de que todos os animais terão de ser vegetarianos, cada um do seu jeito. Viva a República Vegetariana!” Se vocês argumentarem que as conclusões filosóficas da Hiena estão erradas direi que vocês estão com toda razão. Mas é preciso que se aprenda uma outra regra da política: ‘Na política quem tem razão não é quem tem razão. É quem tem o porrete maior…
O discurso da Hiena foi saudado com uma grande salva de palmas, seguido por um festival gastronômico em que hienas, onças, lobos, cães vadios, cobras, gambás e gatos churrasqueavam vacas, veados, macacos, galinhas e passarinhos. “Pois Feuerbach não disse que somos o que comemos? A lei é clara: todos os animais são vegetais transformados..”.
Aí os membros do Partido das Bananas perceberam que haviam caído numa armadilha. Leis são armadilhas. Uma vez feitas não podem ser desrespeitadas, a menos que sejam revogadas por aqueles que as fizeram, os representantes eleitos.
Mas quem teria poder para revogar essa lei? Olhando para seus gordos representantes no Congresso era claro que nenhum deles estava disposto a trocar costeletas, lombos e lingüiças por alface, couve e cenoura… Concluíram, então, que com aquele congresso de carnívoros a reforma política jamais seria realizada. O Ganso, metido a intelectual, repetiu então uma frase que havia lido num livro em inglês: “might makes right”… É o Poder que estabelece o Direito.
Foi então que um leitão rechonchudo chamado Alfred Hitchcock pediu a palavra. Ele já havia experimentado a dor da perda de sua mãe, comida por uma onça que falava enquanto comia: “Que deliciosa é essa porca! Ela é milho, é abóbora, é mandioca, é batata! Como é boa a dieta vegetariana!” Pois bem. O dito leitão ponderou: “Eu não posso enfrentar a onça. As galinhas não podem enfrentar os gambás. Os cordeiros não podem enfrentar os lobos! Mas os pássaros! Milhares de pássaros em seus vôos rasantes e bicos pontudos! Que poderão fazer as onças, os gambás e os lobos contra o ataque de milhares e pássaros? Vamos chamar os pássaros! Eles são vegetarianos! São nossos aliados!”” E assim aconteceu. Vieram então, em bandos que tapavam o sol, milhares de andorinhas, pássaros pretos, sabiás, pardais, tico-ticos, periquitos… Invadiram o edifício do Congresso. Foi um pandemônio. O espaço escureceu. O barulho dos pios e dos gritos dos pássaros era ensurdecedor. Milhares de bicos bicando sem parar em mergulhos certeiros. Além disso, por onde iam soltavam seus excrementos moles e fedidos que escorriam pelas caras dos excelentíssimos. Os representes gritavam histéricos: “Isso é conspiração! Estão tentando desestabilizar o governo!” Mas os pássaros nem ligaram. Continuaram a fazer o que estavam fazendo. Os gambás, onças, lobos, cães vadios e hienas fugiram e nunca mais voltaram, com medo de que os pássaros lhes furassem os olhos…”
Agora, meninos e meninas: vamos chamar os pássaros…



terça-feira, 29 de setembro de 2015

CRITICA SOCIAL ATRAVÉS DA ARTE


"Em tempos onde os problemas políticos e sociais são delicados, a critica social não poderia ser do mesmo caráter. O artista polonês Pawel Kuczynski realiza desenhos satíricos com o principal objetivo de fazer que o público se auto-questione o porquê de muitas coisas que formam parte do nosso dia-a-dia.
Seus temas vão da vida social à política ou a pobreza, e também se você olhar com atenção às obras, irá notar muitas situações descritas incisivamente e sem palavras…
É preciso parar e refletir um pouco para tentar captar a essência da mensagem que o artista quer nos passar mas é difícil ficar indiferente à sua obra sem questionarmos os valores predominantes na sociedade atual."

































O ASSUSTADOR RITUAL DA TRIBO KUKU-KUKU




"Se você pretende visitar a região de Menyama, na Papua Nova Guiné, se prepare para encontrar cenas assustadoras. Alguns corpos carbonizados e endurados em penhascos e coisa rotineira no local. Sinceramente a cena está próxima a alguns crimes bárbaros que ouvimos por aí, porém, está longe de ser crimes, trata-se de um ritual cruel e bizarro.

“Corpos defumados de Aseki” assim que são conhecidos, eles são preservados intencionalmente pela tribo local Kuku-Kuku, e depois disso enforcados e colocados no penhasco.
Para conseguir preserva-los, eles queimam os corpos de seus parentes, uma vez que a fumaça consegue remover a umidade que o corpo tem e também cria propriedades antibacterianas. Para que o processo aconteça mais rápido elas esfaqueiam varias vezes seus entes, conseguindo remover todos os fluídos, removendo todos os órgãos internos pelo ânus. Depois de tudo pronto, eles levam os corpos para um local bem inclinado.
Os corpos são posicionados de tal modo que representa estar olhando para a aldeia sob a montanha. Significando proteção sobre a aldeia.
Mas não pense que qualquer um tem o seu corpo defumado e tornam-se guardiões da aldeia. Apenas os filhos de guerreiros podem ser guerreiros e assim vai.
Atualmente essa tradição está perdendo a força, e não está atuando frequentemente entre as tribos como era popular nas décadas atrás, mas alguns corpos ainda continuam passando por esse ritual assustador."




Será que eles realmente são tao diferentes assim das culturas Ocidentais? Pare para pensar o que fazemos com os nossos mortos, quais os procedimentos para o velório... Parece que os SONACIREMAS estão em todas as partes.





quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Clandestino


Tema altamente contemporâneo é a immigração que a europa vem recebendo da africa nos ultimos meses. Porém seria interessante refletir para alem de toda a mazela que a europa levou aquele continente.
O que garante as pessoas o direito a terra? O direito a uma nascente de água? Se refletirmos para além da questão radical e reformista, e para além da questão do primeiros proprietarios, e chegando a uma questão quase religiosa.... aquela terra é prometida de alguem?

Segue a musica de Mano chao...


Clandestino

Sozinho vou com minha dor
Escolho minha sentença
Correr é meu destino
Para escapar da lei

Perdido no coração
Da grande babilônia
Me chamam de clandestino
Por não ter identidade

Pra uma cidade do norte
Eu parti para trabalhar
Minha vida lá deixei
Entre Celta e Gibraltar

Sou uma arraia no mar
Fantasma da cidade
Minha vida é proibida
Disse a autoridade

Sozinho vou com minha dor
Escolho minha sentença
Correr é meu destino
Para escapar da lei

Perdido no coração
Da grande babilônia
Me chamam de clandestino
Eu sou o "Quebra Lei"


Mano Negra clandestina
Peruano clandestino
Africano clandestino
Maconha ilegal

Sozinho vou com minha dor
Escolho minha sentença
Correr é meu destino
Para escapar da lei
Perdido no coração
Da grande babilônia
Me chamam de clandestino
Por não ter identidade

Argelino clandestino
Nigeriano clandestino
Boliviano clandestino
Mão Negra ilegal



segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O Cardápio Oculto: Um estudo sobre a ideologia vegetariana

Bom dia a todos,

No intuito de compartilhar o conhecimento cientifico estou disponibilizando minha monografia sobre o estudo da ideologia vegetariana. 
Para aqueles que estudam o tema da ideologia e para aqueles que pesquisam sobre o vegetarianismo acredito que estão reunidas muitas informações sobre o tema.

Não se esqueçam de citar caso forem usar em seus trabalhos. Fico grato com o retorno e as criticas.


Obrigado!




SANT´ANA, Eustáquio de Carvalho. O cardápio Oculto: um sobre a ideologia vegetariana. Orientador: Prof. Doutor Raul Francisco Magalhães: UFJF/Dep. Ciências Sociais, 2008. 90 p. Monografia. (Graduação em Bacharelado de Ciências Sociais).

O objetivo deste trabalho é pesquisar o conceito de ideologia, de modo a possibilitar a melhor compreensão da ideologia vegetariana, fazendo por tanto, um paralelo desta com os conceitos ideológicos vigentes. Nesta finalidade, ocorrerá uma série de levantamento de dados, buscando contextualizar este grupo em nossa sociedade, assim como as analises midiática, e como ocorre a busca pela desconstrução simbólica da carne por este grupo.

Palavras-chave: Ideologia, mídia e desconstrução simbólica.