segunda-feira, 29 de junho de 2009

Morte de câimbra



BRASÍLIA - A indústria fabrica mais e mais carros “Flex” (a álcool e a gasolina), os usineiros fazem a festa, os preços só sobem, os consumidores se assustam e o governo ameaça intervir. Você não acha que está faltando alguém nessa história?

Todos estão pensando no seu bolso e no seu interesse, mas ninguém se preocupa com a base dessa pirâmide: o cortador de cana - um dos trabalhadores mais explorados do país.

É por isso que a CUT (Central Única dos Trabalhadores) dá um grito e a socióloga Maria Aparecida de Moraes Silva, professora visitante da USP e titular da Unesp, quer saber o que, de toda essa pujança, de todos esses aumentos e de toda essa negociação em torno do “flex”, vai sobrar para os cortadores de cana, cujas condições ela acompanha há mais de 30 anos, principalmente na região de Ribeirão Preto (SP).

Esse trabalhador fica a ver navios boa parte do ano e se esfalfa durante a safra (Abril a Novembro) por migalhas, recebendo de R$ 2,20 a R$ 2,40 por tonelada de cana cortada. E ainda paga o transporte, a pensão, a comida. E manda o que sobra (deve ser mágico) para casa. Sim, porque a maioria é migrante. Deixa a família e desce do norte de Minas e do Nordeste para ganhar a vida - ou a morte.

De meados de 2004 a Novembro de 2005, morreram 13 cortadores na região, geralmente homens jovens (o mais velho tinha 55 anos). Há diferentes diagnósticos médicos, e os cortadores têm o seu próprio: “morte de câimbra” Sabe o que é? A partir dos anos 90, com as máquinas colheitadeiras; o sujeito tem como meta cortar 12 toneladas de cana por dia. Ai vem a câimbra nos braços; nas pernas e, enfim, no corpo todo. Na verdade, ele morre de estafa. Se é assim em pleno Estado de São Paulo, imagine como deve ser no Nordeste - em Alagoas, por exemplo.

Espera-se que governo e produtores se entendam para um preço justo ao consumidor. E que, um dia, os trabalhadores também tenham direitos - a voz, a pressão e à própria vida.

Cantanhêde, Eliane. Morte de câimbra. Folha de São Paulo, 6 jan. 2006. Opnião, p.A2.



Então pessoal, não é possível relacionar este caso com as diversas criticas de Karl Marx a respeito do capitalismo? Pensem sobre isso.

3 comentários:

  1. EVERTON BONATO PACHECO29 de junho de 2009 às 22:25

    A POLITICA SERVIL ECONOMICA DO GOVERNO LULA DESERTIFICA AINDA MAIS O NOSSO SOLO SOCIAL, AMPLIANDO O DESEMPREGO E A MISERIA. DE PARTIDO DE ESQUERDA SONTRA A ORDEM FOI POUCO A POUCO METAMORFOSEANDO-SE EM PARTINDO DENTRO DA ORDEM HEGEMONICA NEOLIBERAL.A POLITICA QUE O GOVERNO DO PT VEM IMPLEMENTANDO É EM PARTE CONTINUIDADE DE SEU TRANSFORMISMO E SUA CONSEQUENTE ADEQUAÇAO À ORDEM E À INSTITUCIONALIDADE. A POLITICA ECONOMICA E O PROJETO POLITICO DO PT CAMINHAM NA DIREÇAO DO NEFASTO SOCIAL-LIBERALISMO, QUE É TÃO NEOLIBERAL QUANTO ANTI-SOCIAL.

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  2. É interessante perceber a relação direta que existe desse texto com os trabalhadores pobres do séc XVIII.

    Os trabalhadores pobres de Manchester – F. Engels

    “A cidade é construída de forma tão peculiar que se pode morar nela durante anos, entrar e sair diariamente, sem entrar em contato com um bairro de trabalhadores, ou mesmo com um trabalhador, isto é, desde que se limite a negócios ou a passeios. Isto provém principalmente do fato de que, ou por tácito acordo inconsciente, ou por uma intenção já consciente, os bairros dos trabalhadores estão rigorosamente separados das partes da cidade reservadas à classe média.”

    “Jamais encontrei, porém, em qualquer outra parte, como em Manchester, ao mesmo tempo, um tão sistemático isolamento da classe trabalhadora em relação às ruas principais, e um tão delicado encobrimento de tudo aquilo que possa ferir as vistas e os nervos da burguesia.”

    “...Era um destes pátios, logo no começo, onde termina este acesso, fica uma latrina que não tem nenhuma porta e é tão suja que os moradores apenas podem entrar ou sair do pátio atravessando um charco de urina podre e excrementos que a rodeiam...” “...abaixo, ao nível do rio, situam-se vários curtumes (onde prepara o couro), que empestam toda a região com o mau cheiro da decomposição de matérias orgânicas. Para os pátios abaixo de Ducie Brigde, na maioria das vezes descendo escadas sujas e estreitas e alcançam-se as casas somente transpondo montes de entulhos de lixo.”

    “...O primeiro pátio no tempo da cólera, estava em tais condições que a polícia sanitária o mandou evacuar, limpar e desinfetar com cloro.”

    “Embaixo corre, ou melhor, estagna, o Irk, um rio escuro, mal cheiroso, cheio de entulhos e de lixo, que se amontoam na margem direita, mais plana; com o tempo seco, fica ai uma longa fila de poças de lama verde escura, asquerosíssima, de cuja profundidade sobem permanentes bolhas de gases miasmáticos, das quais se desprendem um cheiro que, mesmo para os que estão em cima da ponte, quarenta ou cinqüenta pés acima do nível da água , torna-se insuportável.”

    Em outro bairro...
    “...monte de entulhos, lixo e imundície; poças de lama em vez de esgotos, e um cheiro que por si mesmo impediria qualquer pessoa razoavelmente civilizada de morar em tal distrito.”
    “Como podem as pessoas se lavar, se só há por perto as águas imundas do Irk e somente nos bairros decentes da cidade existem sistemas de canalização e bombas de água?”
    Em outro bairro...(nas mesmas condições)
    “A quantidade de porcos que aqui perambulam por toda parte, nas vielas, que fuçam os lixos ou que estão presos em pátios em pequenos chiqueiros.”

    “Tal é a antiga cidade de Manchester – e quando releio mais uma vez minha descrição, preciso reconhecer que em vez de exagerada não é nem de longe suficientemente penetrante para tornar visível a sujeira, a decadência e a inabitabilidade e o tipo de construção incompatível com toda a consideração sobre limpeza, ventilação e saúde deste bairro, que abriga pelo menos vinte a trinta mil moradores.”
    E tal bairro existe no centro da segunda cidade da Inglaterra, a primeira cidade industrial do mundo!”
    “...Tudo o que mais intensamente provoca nosso desprezo e nossa indignação é de origem nova, pertence a época industrial.”
    “...somente a industria fez isso, ela que, sem estes trabalhadores, sem a sua pobreza e a sua escravidão não poderia existir”.

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  3. Os trabalhadores pobres – Eric Hobsbawn

    “O alcoolismo em massa, companheiro quase invariável de uma industrialização e de uma urbanização bruscas e incontroláveis, disseminou “uma peste de embriagues” em toda a Europa”.
    “Tudo concorria para aumentar a desmoralização. As cidades e as áreas industriais cresciam rapidamente, sem planejamento ou supervisão, e os serviços mais elementares para manter a vida na cidade fracassavam. A conseqüência mais patente desta deteorização urbana foi o reaparecimento das grandes epidemias de doenças contagiosas.”
    O crescimento urbano empurrou os pobres para as áreas de miséria em grandes concentrações.
    Bebida, infanticídio, prostituição, suicídio, demência entre outros eram as fugas encontradas pelos trabalhadores, com auto estima baixa.

    No séc XIX, os trabalhadores encontraram na rebelião e na união o inicio de um caminho para a resolução de seus problemas.
    “A expectativa média de vida em 1840 eram 2 vezes maior entre os trabalhadores rurais do que entre os trabalhadores urbanos de Manchester ou de Liverpool.
    “O verdadeiramente novo movimento operário no séc XIX era a consciência de classe e a ambição de classe. Os ‘pobres’ não mais se defrontavam com os ‘ricos’. Uma classe especifica, a classe operária, trabalhadores ou proletariados, enfrentavam a dos patrões ou capitalistas.
    “A nova classe” buscava o respeito, reconhecimento e igualdade.

    “O movimento trabalhista deste período, portanto, não foi estritamente um ‘movimento proletário’ nem em sua composição nem em sua ideologia e programa, e não foi apenas um movimento de trabalhadores fabris e industriais ou, nem mesmo, limitados a trabalhadores assalariados. Foi antes uma frente comum de todas as forças e tendências que representava o trabalhador pobre, principalmente urbano.


    “O que mantinha este movimento unido era a fome, a miséria o ódio e a esperança, e o que os derrotou, na Grã-bretanha cartista e no revolucionário continente europeu de 1848, foi que os pobres – famintos, bastantes numerosos e suficientemente desesperados para se insurgirem – careciam da organização e maturidade capazes de fazer de sua rebelião mais que um perigo momentâneo para a ordem social.

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