sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Arte na Industria Cultural


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A arte esteve, e ainda está sempre ligada a sensibilidade, imaginação e inspiração do artista na busca do belo. Expressões de emoções e desejos, e hoje no séc. XX interpretando e fazendo criticas a realidade social.

Com a Indústria Cultural a arte passou a ser mercadoria, se antes ela estava ligada a contemplação, hoje ela está ligada mais ao lucro. Desta forma ela perde a sua áurea inicial.
A Indústria cultural desta forma não deve chocar, provocar ou fazer o receptor pensar, é perceptível nos programas a futilidade e a profundidade dos temas tratados. Desta forma ela foca na inculcação de valores: Basta consumir e divertir.
A manipulação, a formação de opinião, a infantilização e condicionamento de mentes e a produção cultural do grotesco para a despolitização são os aspectos trabalhados pela indústria cultural quando há a intenção de uma manipulação cultural ou política.
  • Dispersão da atenção e infantilização
Segue a baixo o texto da filosofa Marilena Chauí, mostrando como nossa sensibilidade pode ser alterada com as mídias.
Vale a pena, também, mencionar dois outros efeitos que a mídia produz em nossas mentes: a dispersão da atenção e a infantilização.
Para atender aos interesses econômicos dos patrocinadores, a mídia divide a programação em blocos que duram de sete a dez minutos, cada bloco sendo interrompido pelos comerciais. Essa divisão do tempo nos leva a concentrar a atenção durante os sete ou dez minutos de programa e a desconcentrá-la durante as pausas para a publicidade.
Pouco a pouco, isso se torna um hábito. Artistas de teatro afirmam que, durante um espetáculo, sentem o público ficar desatento a cada sete minutos. Professores observam que seus alunos perdem a atenção a cada dez minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa que dão a si mesmos, como se dividissem a aula em “programa” e “comercial”.
Ora, um dos resultados dessa mudança mental transparece quando criança e jovem tentam ler um livro: não conseguem ler mais do que sete a dez minutos de cada vez, não conseguem suportar a ausência de imagens e ilustrações no texto, não suportam a idéia de precisar ler “um livro inteiro”. A atenção e a concentração, a capacidade de abstração intelectual e de exercício do pensamento foram destruídas. Como esperar que possam desejar e interessar-se pelas obras de arte e de pensamento?
Por ser um ramo da indústria cultural e, portanto, por ser fundamentalmente uma vendedora de Cultura que precisa agradar o consumidor, a mídia infantiliza. Como isso acontece? Uma pessoa (criança ou não) é infantil quando não consegue suportar a distância temporal entre seu desejo e a satisfação dele. A criança é infantil justamente porque para ela o intervalo entre o desejo e a satisfação é intolerável (por isso a criança pequenina chora tanto).
Ora, o que faz a mídia? Promete e oferece gratificação instantânea. Como o consegue? Criando em nós os desejos e oferendo produtos (publicidade e programação) para satisfazê-los. O ouvinte que gira o dial do aparelho de rádio continuamente e o telespectador que muda continuamente de canal o fazem porque sabem que, em algum lugar, seu desejo será imediatamente satisfeito.
Além disso, como a programação se dirige ao que já sabemos e já gostamos, e como toma a cultura como forma de lazer e entretenimento, a mídia satisfaz imediatamente nossos desejos porque não exige de nós atenção, pensamento, reflexão, crítica, perturbação de nossa sensibilidade e de nossa fantasia. Em suma, não nos pede o que as obras de arte e de pensamento nos pedem: trabalho sensorial e mental para compreendê-las, amá-las, criticá-las, superá-las. A Cultura nos satisfaz, se tivermos paciência para compreendê-la e decifrá-la. Exige maturidade. A mídia nos satisfaz porque nada nos pede, senão que permaneçamos para sempre infantis.
Retirado de “Convite à Filosofia” de Marilena Chauí, Ed. Ática, SP, 95, p. 329/333
  • A TV, a tele-presença.
Para o autor Muniz Sodré, a TV ao ser ligada, também liga os telespectadores, amenizando neles o sentimento de solidão que existe hoje nos grande centros. As pessoas a pesar de viverem cada vez mais próximas, vivem cada vez mais solitárias. É possível observar que não só a TV provoca esse sentimento de companhia e conforto, mas outras formas como WhatsApp, Facebook, E-mail, etc.
  • Temas como MST.
Temas como o MST é um exemplo de como a mídia pode vir favorecer ou não os ideais de um grupo. Noticiais como: “MST ensina táticas de guerrilha aos sem-terra (O Globo, 13/06/99) são divulgadas para desmoralizá-los. Não quero e nem pretendo me aprofundar sobre tal movimento que gera muita polêmica, a tal ponto que pessoas que não tem 1 hectare de terra os acusam veemente. O fato é que pouca voz se dá a este grupo, e mesmo que se desse, quem teria mais credibilidade, a mídia ou eles? Poderíamos refletir porque não é vinculado matérias sobre a concentração de terra no Brasil? Esta que impossibilita a produção mais barata e justa dos alimentos.
  • A produção do grotesco.
O grotesco é aquilo extravagante, que provoca risos, que é ridículo ou bizarro. E tem sido bastante utilizado pela mídia brasileira. Basta ver as matérias trazidas a tona, fazendo com que o público passe por humilhação. Passa a ser engraçado e cria audiência mostrar o mendigo banguelo, a mulher gaga, o senhor subnutrido entre outros casos. O fato é que este grotesco afasta cada vez mais o público da reflexão, daquela “arte” tratada no início desta postagem. Cria-se um senso comum carregado de preconceitos.
  • Coronelismo Eletrônico.
Hoje uma nova forma de coronelismo se impõe. No Brasil, 73,75% das emissoras de radiodifusão estão nas mãos de políticos. O texto a seguir de Venício A. de Lima e Cristiano Aguiar Lopes retrata sucintamente o conceito:
O Coronelismo
Desde o Império até a República, a estrutura agrária concentradora da propriedade da terra possibilitou o exercício do controle político do município por lideranças locais por intermédio de um complicado sistema de compromissos e troca de favores com as províncias (estados) e a União. O coronel era o chefe político local e recebia essa designação como oficial da Guarda Nacional, criada ainda no século 19.
A moeda de troca básica dos velhos coronéis era o controle do voto – o chamado “voto de cabresto” –, inicialmente aberto e depois secreto. Como recompensa, eram eles que decidiam sobre a alocação dos recursos orçamentários estaduais e federais no município e faziam as indicações dos nomes que ocupariam os cargos de comando da máquina pública – juiz, delegado de polícia, coletor de impostos, agente dos Correios, professores do ensino público, dentre outros.
Como reafirmou Leal (1980)
“o coronelismo era um aspecto local da dominação política, um aspecto local das lutas e dos entendimentos políticos, embora refletindo-se nos círculos mais amplos e contribuindo, por suas características, para dar uma tonalidade própria a toda a vida política do país”.
Esse coronelismo da República Velha encontra suas condições ideais de funcionamento num país de população majoritariamente rural, no contexto do poder central do Estado fortalecido, de municípios isolados e tutelados, e da introdução de instituições representativas na política.
O Coronelismo Eletrônico
O coronelismo eletrônico, por outro lado, é um fenômeno do Brasil urbano da segunda metade do século 20, que sofre uma inflexão importante com a Constituição de 1988, mas persiste e se reinventa depois ela. É também resultado da adoção do modelo de curadoria (trusteeship model), isto é, da outorga pela União a empresas privadas da exploração dos serviços públicos de rádio e televisão e, sobretudo, das profundas alterações que ocorreram com a progressiva centralidade da mídia na política brasileira, a partir do regime militar (1964-1985).
Emissoras de rádio e televisão, que são mantidas em boa parte pela publicidade oficial e estão articuladas com as redes nacionais dominantes, dão origem a um tipo de poder agora não mais coercitivo, mas criador de consensos políticos. São esses consensos que facilitam (mas não garantem) a eleição (e a reeleição) de representantes – em nível federal, deputados e senadores – que, por sua vez, permitem circularmente a permanência do coronelismo como sistema.
Ao controlar as concessões, o novo “coronel” promove a si mesmo e aos seus aliados, hostiliza e cerceia a expressão dos adversários políticos e é fator importante na construção da opinião pública cujo apoio é disputado tanto no plano estadual como no federal.
No coronelismo eletrônico, portanto, a moeda de troca continua sendo o voto, como no velho coronelismo. Só que não mais com base na posse da terra, mas no controle da informação – vale dizer, na capacidade de influir na formação da opinião pública.
A recompensa da União aos coronéis eletrônicos é de certa forma antecipada pela outorga e, depois, pela renovação das concessões do serviço de radiodifusão que confere a eles poder na barganha dos recursos para os serviços públicos municipais, estaduais e federais.
Um feliz resumo das diferenças entre o coronelismo e o coronelismo eletrônico pode ser encontrado em trabalho de Costa e Brener, publicado em 1997. Dizem eles:
Se as raízes dos velhos coronéis remontam ao Império, os coronéis de agora emergiram principalmente a partir do regime militar. Os primeiros são expressão de um Brasil predominantemente rural, enquanto os novos coronéis são atores políticos de um país majoritariamente urbano. O coronel de hoje mantém práticas típicas do antigo coronel, como usar a sua influência junto ao governo para arranjar emprego para os apadrinhados ou levar obras e melhoramentos para as suas bases eleitorais, mas mudou muito a forma de fazer política. Se antes os métodos de cabala de votos se resumiam às instruções dadas aos cabos eleitorais e aos comícios, é inegável que a televisão [e o rádio – inclusão dos A.] se tornaram um novo e decisivo cenário da batalha política estadual e municipal.
Não será coincidência, portanto, constatar que as oligarquias dominantes em vários estados e regiões do país (sobretudo no Nordeste), a partir das últimas décadas do século passado, têm em comum o vínculo com a mídia. Em especial, com as emissoras de rádio e televisão comerciais e suas retransmissoras (RTVs), mas também com as emissoras educativas. Seus membros são detentores de mandatos nos diferentes níveis de representação no Executivo e no Legislativo, mas, sobretudo, são governadores, deputados federais ou senadores. Os mais conhecidos exemplos são as oligarquias regionais identificadas por nomes como Barbalho, Sarney, Jereissati, Garibaldi, Collor de Mello, Franco, Alves, Magalhães, Martinez e Paulo Octávio, dentre outros.
Para reflexão: 25% das cidades brasileiras não têm biblioteca, mas 99% são cobertas pelas emissoras de TV. Fonte: IBGE-2001.

5 comentários:

  1. Muiito boom , obg por tiirar miinha dúvida , parabéns ...

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  2. mto interessante sua postagem...a população está sendo alienada e a industria cultural faz o q quer com ela...
    mto obrigada ajudou bastante!!

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  3. Que postagem sensacional! Parabéns!

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  4. Parabéns pelo texto Marilena Chauí... de grande agregação de conhecimento e de fácil compreensão.

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