quinta-feira, 17 de junho de 2010

Fundamentos da filosofia

Filosofia


A posse da consciência é um dos fatores que torna o homem diferente dos animais irracionais, possibilitando ao homem a construção do saber.


Sapiens sapiens à o ser que sabe que sabe. Avalia a si mesmo, seus limites e seu valor.

Homo sapiens - latim: “homem sábio”


Eu e o mundo


Existem duas dimensões do processo de conscientização:


A consciência de si à a concentração da consciência nos estados interiores do sujeito, exige a reflexão. Alcança-se a dimensão da interioridade através do processo de Falar, criar, afirmar, propor.


A consciência do outro à a concentração da consciência nos objetos exteriores ao sujeito, exige a atenção.

Alcança-se a dimensão da alteridade através do processo de Escutar, absorver, reformular, rever e renovar.


A consciência crítica à ou (senso crítico) se desenvolve junto com as duas consciências anteriores em equilíbrio. A reflexão sobre si e a atenção sobre o mundo.

O desenvolvimento da conscientização humana depende da superação do isolamento e do alheamento.


Aberto ao ser e ao saber, a conscientização faz do homem dinâmico. Eterno caminhante destinado à procura e ao encontro da realidade. Caminhante cuja estrada é feita da harmonia e do conflito com o ser, o saber e o fazer, essas dimensões essenciais da existência humana.


As diferentes consciências estabelecidas na relação homem- mundo


A consciência mítica

Narrativa e ritos tradicionais integrantes da cultura de um povo que vão passar sentidos e valores a uma cultura. Através deles também se buscava explicar a realidade.


A história de Édipo

Édipo nasceu em Tebas e era descendente de seu mítico fundador, Cadmos. Seu avô foi Labdacos (o "coxo") e seu pai foi Laios (o "canhoto").

Laios casou-se com Jocasta e teriam sido felizes como reis de Tebas se não fosse um problema: não conseguiam ter filhos. Por essa razão, muito religiosos, foram consultar o Oráculo de Delfos.

No templo, a pitonisa délfica revelou que teriam um filho dentro de pouco tempo, mas que ele estava destinado a matar o pai e casar-se com a mãe.

Eles se alegraram pelo filho. Quando ele nasceu, Laios lembrou-se do oráculo e mandou os servos matarem o bebê.

Levaram-no para uma a floresta, furaram-lhe os pés e o amarraram de ponta cabeça em uma árvore para ser devorado pelos animais selvagens.

Passaram por ali uns pastores de Corinto e o levaram. Deram-no aos reis de Corinto, que também sofriam por não ter um filho. O rei e a rainha adotaram-no como se fosse seu, e lhe deram o nome de Édipo, que quer dizer "pés furados".

Quando cresceu, Édipo começou a sentir-se diferente dos seus concidadãos e foi consultar o Oráculo de Delfos. Aí soube que estava destinado a matar o próprio pai e a casar-se com a mãe. Horrorizado, decidiu não voltar a Corinto, Pegou o carro e foi para bem longe.

Em uma estrada estreita, nas montanhas, encontrou um carro maior na direção contrária. Tentou desviar-se mas os carros acabaram chocando-se de raspão. O cocheiro do outro carro xingou Édipo que, revoltado, o matou. Então o patrão do cocheiro avançou sobre Édipo, que o matou também. E continuou a viagem.

Chegou a Tebas e encontrou a cidade consternada por dois problemas: o rei tinha morrido e um monstro, a Esfinge, estabelecera-se na porta da cidade propondo um enigma. Como ninguém sabia responder, a Esfinge ia matando um por um. Jocasta tinha oferecido sua mão a quem livrasse a cidade desse monstro.

Édipo foi enfrentar a Esfinge. Era um ser estranho, com corpo de leão, patas de boi, asas de águia e rosto humano. Seu enigma: O que é que tem quatro pés de manhã, dois ao meio dia e três à tarde?

Édipo respondeu que era o homem, porque engatinha quando criança, passa a vida andando sobre dois pés mas,velho, tem que recorrer a uma bengala. A Esfinge matou-se e Édipo, casando-se com Jocasta, tornou-se o rei de Tebas.

Tiveram quatro filhos. Os gêmeos Eteócles e Poliníces, Antígona e Ismênia. Foram felizes durante muitos anos. Mas, depois, uma peste assolou a cidade.

Édipo quis ir consultar Delfos, mas foi aconselhado a chamar Tirésias, um velhinho cego e sábio que vivia em Tebas. Este revelou que a causa era o assassino de Laios, que continuava na cidade. Édipo prometeu prendê-lo e matá-lo, mas o sábio revelou que ele mesmo era o assassino, porque Laios era o dono do carro que ele enfrentara.

Jocasta, envergonhada, suicidou-se. Édipo furou os próprios olhos e renunciou ao trono. Cego, precisou ser guiado por Antígona para ir a Delfos. Aí soube que devia ir a um bosque sagrado, em Colonos, perto de Atenas. Ajudado por Teseu, rei de Atenas, chegou lá. Encontrou um lago, onde tomou banho, e uma caverna, onde penetrou depois de mudar de roupa. Entrou na eternidade.


A consciência religiosa

Compartilha o elemento sobrenatural com a consciência mítica. No entanto é uma consciência que, historicamente, conviveu e debateu com a razão filosófica e cientifica. Há uma crença na fé e não na razão. Exemplo disto são os dogmas religiosos.


A consciência intuitiva

Saber imediato, ações tomadas sem reflexão.

Intelectual > ações podem ser explicadas posteriormente, que envolveu uma lógica. (EX: General que deve tomar uma decisão rápida em uma guerra. Posteriormente, esta decisão pode ser melhor refletida e observa-se que houve uma “intuição sábia”)

Sensível > se baseia apenas na experiência e conhecimento individual, são ações tomadas sem qualquer pressuposto, apenas nas leituras de mundo individuais.


A consciência racional

A consciência racional busca a compreensão da realidade por meio de certos princípios estabelecidos pela razão. Desenvolve um trabalho de abstração (separar e isolar as partes essenciais) e análise (compor o todo em suas partes).

Este procedimento racional, no qual se procura alcançar a “essência” de determinado fenômeno, é comum a ciência e a filosofia, que, de fato, se mantiveram ligadas por muitos séculos. Hoje eles guardam características próprias.


Séc. VXII houve uma separação (Rev. Científica)


Ciência

-Experiências Empíricas;

-Especializações;

-“A era dos especialistas”. Devido ao acumulo de conhecimento já alcançado pela humanidade, a ciencia tende cada vez mais a especialização.



Filosofia

-Mais teórica;

-busca o saber do conjunto;

-Avalia e questiona a realidade.


O senso comum

Concepções aceitas como verdadeiras. Sem base crítica, coerente, precisa e sistemática. Podem ser idéias falsas, parciais, preconceituosas ou da “sabedoria popular” ou mesmo podendo a formar ideologias.


Ideologia

Idéias de grupos sociais que mostram os pontos de vistas de modo parcial ou distorcido. Muitas vezes servindo de orientação a vida prática dos indivíduos. A ideologia seria, portanto, uma forma de consciência da realidade, mas uma consciência parcial e ilusória, que se baseia na criação de conceitos e preconceitos como instrumentos de dominação.


A filosofia, do senso comum ao senso crítico


O estranhamento da realidade em questão produz um estranhamento no individuo, que passa a questionar as coisas que são dadas como naturais (senso comum, ideologias).

O Ser Humano queria uma explicação para o mundo, uma ordem para o caos. Ele queria a verdade. A busca incessante por esta verdade, de maneira clara, coerente e precisa se inicia com a filosofia.

Filo + Sofia (Amante da sabedoria).


Diversos temas tratados: aborto (vida), pena de morte, maioridade penal, homossexualismo, etc.

Homem: O Ser que Pergunta

Roland Corbisier

Normalmente perguntamos sem refletir sobre o próprio perguntar, sem indagar pelo significado dessa operação da inteligência que se acha na raiz de todo conhecimento e de toda ciência. E ao perguntar pelo perguntar, convertemos essa operação, que nos parece tão banal, tão quotidiana, em tema filosófico, a partir do momento em que passamos a considerá-la do ponto de vista da crítica radical.

Se compararmos, nesse aspecto, o comportamento humano com o do animal, verificaremos que o animal não pergunta, não indaga, limitando-se a responder. Mas, por que o animal não pergunta? Não pergunta porque não precisa perguntar. E por que não precisa perguntar? Porque, para viver e reproduzir-se, dispõe do instinto que o torna capaz de fazer, embora inconsciente e sonambulicamente, tudo o que é necessário para sobreviver e assegurar a sobrevivência de sua espécie. O animal não pergunta, limita-se a responder aos estímulos e provocações do contexto em que se encontra, a responder imediatamente, fugindo do perigo, quando é ameaçado, e atacando a presa quando está com fome.


Entre o animal e o contexto em que vive não há ruptura, não há solução de continuidade. Porque o animal é natureza dentro da natureza, instinto, espontaneidade vital, inconsciência (...)

Quando o comportamento do animal não é ditado pelo instinto, pela necessidade de alimentar-se, ou de reproduzir-se, e de mover-se no espaço, é ditado pelos estímulos exteriores que provocam reflexos ou respostas previamente determinados. O animal não precisa saber o que são as coisas, não precisa perguntar, porque sabe, por instinto, tudo o que precisa saber para sobreviver e assegurar a sobrevivência da espécie, do grupo ou da família a que pertence.

Essa ciência está implícita em sua natureza, pois o peixe nasce sabendo nadar, o pássaro sabendo voar, e os gatos e cachorros sabendo andar e correr. A integração no contexto natural é completa, mesmo por parte dos animais que constroem colméias como as abelhas, edifícios para morar como as formigas, ou teias como as aranhas. Essas construções são obra do instinto, atividade que realiza fins determinados sem ter consciência de que os realiza, sem ter a possibilidade, ou a liberdade de não realizá-los. Pois ser abelha e construir colméias é a mesma coisa, e a mesma coisa, também, é ser formiga e erguer formigueiros, e ser aranha e fabricar as teias. Toda a conduta, toda a atividade do animal está predeterminada, preestabelecida, em sua natureza, inclusive a possibilidade, que se verifica em relação a certos animais superiores, de serem adestrados para trabalhar nos circos.

Em contraste, o homem pergunta. E, por que pergunta? Porque precisa perguntar. Mas, por que precisa perguntar? Precisa perguntar porque não sabe e precisa saber, saber o que é o mundo em que se encontra e no qual deve viver. Para poder viver, e viver é conviver, com as coisas e com os outros homens, precisa saber como as coisas e os outros homens se comportam, pois sem esse conhecimento não poderia orientar sua conduta em relação às coisas e aos homens. Para o ser humano o conhecimento não é facultativo, mas indispensável, uma vez que sua sobrevivência dele depende. Mas, para que esse conhecimento lhe seja realmente útil e lhe permita transformar a natureza, pondo-a a seu serviço, e lhe permita, também, transformar sua própria natureza, pela educação e pela cultura, para que esse conhecimento possa tornar-se o fundamento de uma técnica realmente eficaz, é indispensável que não seja meramente empírico, mas científico, ou epistemológico, como diziam os gregos.

Ora, que está na origem do conhecimento, tanto filosófico quanto científico? Na origem desse conhecimento está a capacidade, ou melhor, a necessidade de perguntar, de indagar, o que são as coisas e o que é o homem. E qual é o pressuposto, ou a condição, de possibilidade da pergunta? Se pergunto é porque não sei, ou me comporto como se não soubesse. A pergunta supõe, conseqüentemente, a ignorância em relação ao que se pretende ou precisa saber, pressupondo também, e ao mesmo tempo, a consciência da ignorância e o conhecimento, por assim dizer, em oco, daquilo que se desconhece e precisa conhecer. A mola do processo é a contradição. Não sei e sei que não sei, e essa consciência da ignorância, a ciência da insciência, é o que me permite perguntar, quer a pergunta se dirija à natureza, quer se enderece aos outros homens.(...)

Introdução à Filosofia. 2ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, t. 1, p. 125-127, citado por Coutrim (1989, p.22)



EPISTEMOLOGIA: A teoria do conhecimento


Um dos principais problemas filosóficos é o conhecimento, entender a própria capacidade de entender.

-O que é o conhecimento?

-É possível o conhecimento?

-Qual é o fundamento do conhecimento?


Investiga assim as origens, as possibilidades, os fundamentos, a extensão e o valor do conhecimento.


A teoria do conhecimento pode ser definida como a investigação acerca das condições do conhecimento verdadeiro.Neste sentido podemos dizer que existem tantas teorias do conhecimento quantos foram os filósofos que se preocuparam com o problema, pois é impossível constatar uma coincidência total de concepções mesmo entre filósofos que habitualmente são classificados dentro de uma mesma escola ou corrente. Dentre as principais questões tematizadas na teoria do conhecimento podemos citar: as fontes primeiras de todo conhecimento ou o ponto de partida; o processo que faz com que os dados se transformem em juízos ou afirmações acerca de algo; a maneira como é considerada a atividade do sujeito frente ao objeto a ser conhecido; o âmbito do que pode ser conhecido segundo as regras da verdade etc.

LEOPOLDO E SILVA, Franklin. Teoria do conhecimento. In: MORA DE OLIVEIRA, Armando et al. Primeira filosoifia. Tópicos de filosofia geral, p. 175.


Sujeito e Objeto: os dois fundamentos do conhecimento.


Para que exista o conhecimento é necessária a relação entre dois elementos básicos: o sujeito e o objeto. Só haverá conhecimento se o sujeito conseguir apreender o objeto.

“Conhecer é representar cuidadosamente o que está exterior a mente”.


Idealismo:

Maior importância é dada para o sujeito. A percepção da realidade é construída pelas nossas idéias, pela consciência, pela representação que o sujeito faz do objeto.


Materialismo/Realismo:

O objeto é determinante no processo do conhecimento. Devo buscar conhecê-lo em sua forma plena.


É possível o conhecimento?

Ceticismo x Dogmatismo


Somos capazes de conhecer a verdade? É possível o sujeito apreender o objeto? Quais são as possibilidades do conhecimento humano?


Ceticismo Absoluto:

O homem nada pode afirmar, pois nada pode conhecer. Existem duas fontes de erros:

- Os sentidos: induzem a erros, não são dignos de confiança.

- Razão: as opiniões são sempre contraditórias, jamais alcançamos a certeza plena.


Para os críticos é uma corrente estéril e contraditória, ou seja, não leva a nada e contraria a si mesmo, pois se nada é verdadeiro, logo nem mesmo o ceticismo é verdadeiro.


Ceticismo Relativo:

Nega parcialmente a capacidade de conhecermos a realidade.


-Subjetivismo: O conhecimento como uma relação subjetiva e pessoal entre o sujeito e a realidade percebida. Limita-se as idéias e representações elaboradas pelo sujeito.



-Relativismo: Existem apenas verdades relativas ao tempo e situações (condições) determinadas.



-Probabilismo: Nosso conhecimento é incapaz de atingir uma certeza plena, somente uma verdade provável de maior ou menor credibilidade.



-Pragmatismo: verdade sendo algo útil (a verdade é o que é útil), que da certo, que serve aos interesses das pessoas na vida prática.


Dogmatismo:

Defende a capacidade de atingirmos a verdade.


Dogmatismo Ingênuo: Crença em que podemos acreditar plenamente nas possibilidades de nosso conhecimento, ou seja, sem grandes dificuldades percebemos o mundo como ele é. Como a crença senso comum.


Dogmatismo crítico: A verdade alcançada mediante um esforço de nossos sentidos e de nossa inteligência. Trabalho metódico, racional e científico.


Criticismo:

Desenvolvido por Kant. É uma posição critica diante da possibilidade de conhecer. O conhecimento é limitado a condições especificas.

- De onde vem nosso conhecimento?

- De onde surgiram as idéias, os conceitos?

- E as representações?


As fontes do conhecimento

Uma vez que o conhecimento é obtido, de que forma eu o alcanço?

De onde se originam as idéias, os conceitos e as representações?


Empirismo:

Baseado nas experiências sensoriais. O conhecimento advém do sentido. “Nada vem a mente sem ter passado pelos sentidos.”

O conhecimento surge da experiência que provem da observação sensorial.

A mente é como uma folha em branco que é preenchida pela experiência.


Racionalismo:

Confiança exclusiva na razão. Razão humana como instrumento capaz de conhecer a verdade.

A experiência sensorial é uma fonte permanente de erros e confusões. Devemos trabalhar a lógica para atingirmos o conhecimento verdadeiro e universal.

Para os racionalistas, a razão está inata nas mentes dos homens, e deve ser utilizada para a obtenção do conhecimento.


Apriorismo Kantiano: todo conhecimento começa pela experiência sensorial, mas ele sozinho não possibilita o conhecimento. As experiências devem ser organizadas.


O conhecimento, portanto, é o resultado de uma síntese entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. Para Kant é impossível conhecer as coisas em si mesmas (o ser em si). Só conhecemos as coisas como as percebemos (o ser para nós).


1º Experiência (sentidos) >>> 2º Organização da experiência (razão) >>> 3º Conhecimento racional.

(Lembram do exemplo do bastão na piscina? Devemos observar não só os sentidos, mas a razão).


COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia:história e grandes temas. 15ed. São Paulo, Editora Saraiva, 2000.

2 comentários:

  1. "A mente é como um para-quedas,
    só serve se estiver aberta."

    Há uma afirmação de Carl Sagan que faz um bom contraponto a esta frase:
    "Mente aberta? Sim, mas cuidado não vá o cérebro cair pelo buraco".

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  2. Mas esta frase procura faser um critica aqueles que seguem cegamente uma ideologia. Acabam batendo com a cara na parede, se não reconhecem os pontos positivos dos outros. Um exemplo interessante sobre ideologia é o curta do Pixar já postado e no seguinte link:
    http://sociolosofia.blogspot.com/2010/07/dia-e-noite-pixar.html

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