segunda-feira, 28 de junho de 2010

A verdade (Novamente Drummond)

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava
passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir
toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o
perfil de meia verdade.
E a sua segunda metade
Voltava igualmente
com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram
a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a
verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes
uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma
das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou
conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

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