terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cidade moderna, um paradoxo social.


UFJF- Ciências Sociais

Autor: Eustáquio de C. Sant’Ana

31/05/05

Cidade moderna, um paradoxo social.

Procurarei demonstrar neste texto as primeiras visões contemporâneas sobre a cidade, a partir da industrialização e da obtenção de novas tecnologias. Os pontos de vistas diferentes, as desigualdades produzidas pela “instalação” do capitalismo, estas que sempre existiram porem agora de outra forma, levando a um conflito de classes e formações de diferentes ideologias, cada qual com seus diferentes interesses. Procurarei também comparar os textos com os dias de hoje, pois são obras que não perdem seus valores com o passar do tempo.

O que é uma cidade moderna? Certamente F. Engels não concorda que a industria traz a modernidade, uma vez que traz desigualdades sociais tão grandes como a descrita em sua obra Manchester. Engels procura ser realista, porém ele mesmo não consegue descrever com palavras à realidade, de tão grande miséria que encontra, pessoas vivendo como em um chiqueiro, sujas e com fome. Tudo isto ocultado pelas fachadas, embaçando os olhos da burguesia. Pode-se observar que a situação em que vivem os trabalhadores pobres de Manchester assim como os de outras cidades industriais, levam a uma impossibilidade de mobilidade social, uma vez que não tem condição de entrar o mercado. Por vários fatores como escolaridade, aparência (os bairros mais pobres não tinham água limpa e canalização, logo sem condições de haver higiene) e outros. O trabalhador colocado ao acaso passa a viver de esmola, do roubo ou simplesmente morre de fome. Ai esta um grande problema das grandes cidades de hoje, desemprego que leva a violência, as favelas como os bairros pobres de Manchester, e os trabalhadores (não todos) sem opções sendo acolhidos pelo tráfico de drogas.

A ofuscação dos olhos da burguesia passa a ser diferente quando a miséria e a violência a atingem, um exemplo disto é colocado no texto de Eric Hobsbawn em: A era das revoluções, Os trabalhadores pobres (décimo primeiro capitulo), em que as condições de vidas dos trabalhadores geraram uma epidemia de cólera, tifo e febre recurrente. Levando a burguesia a tomar atitudes como a limpeza dos bairros e afastando os trabalhadores pobres para periferia. Um dos pontos colocados no texto é as opções dos trabalhadores pobres: A fuga, seja pelo alcoolismo, prostituição, suicídio, religião, criminalidade, demência. A ascensão, o que já disse não ser possível aos trabalhadores devido a suas condições de vida. E a rebelião.

Os descasos com os trabalhadores, muitos morrendo de fome, os salários que abaixavam cada vez mais, a instabilidade do emprego, o trabalho a que eram expostos, tudo isso fez com que eles se organizassem a fim de buscar melhores condições de vida, formando assim o movimento trabalhista, atrás de respeito, reconhecimento e igualdade.

A maior força do trabalhador foi e é hoje sem duvida a sua união, tanto em comunidade, ajudando uns aos outros reciprocamente, quanto nas questões trabalhistas. A greve sua maior arma, com a mobilização da linha de produção o burguês não tem outra saída a não ser negociar, e foram estas negociações que levaram as formações de varias leis, como por exemplo, a citada na obra de Marx e Engels: Manifesto do Partido Comunista, em que Engels comemora a fixação da jornada de 8 horas de trabalho. É importante observar assim como Engels e Marx colocam que o capitalismo não tem fronteiras, universalizando tudo que pode (a produção intelectual e material), surgindo uma literatura universal, ou seja, reunindo tudo ao seu redor, hoje se observa isso com impressionante nitidez, a globalização, por exemplo, em que a televisão e a internet aproximam pessoas, mercados (com produtos desnecessários e tecnologicamente avançados), culturas de diferentes partes do mundo e de diferentes línguas, e ao mesmo tempo escapam da imprensa (como as fachadas de Manchester) a imensa pobreza que rodeia o mundo, ou aparecem como forma de sensacionalismo, de qualquer forma com interesse de audiência.

Para Marx e Engels os burgueses são aqueles que dirigem o Estado, “o governo moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa”. Hoje temos como exemplo o Império americano com as suas industrias petrolíferas que “controlam” várias regiões do mundo sobre a sua bandeira, as grandes disputas comerciais e os boicotes econômicos.

Certamente uma conversa entre Aristóteles com Marx e Engels sairia uma boa discussão, enquanto que para Aristóteles Democracia é uma forma pervertida de governo, pois só visa a atenção para a classe pobre deixando de lado a dos ricos, e dizendo que a melhor forma de governo é uma mescla entre oligarquia e democracia, que deveria haver propriedade para os ricos e liberdade para os pobres. Marx e Engels deveriam achar esta colocação um absurdo se observada a exploração dos trabalhadores de sua época e a incompleta falta de liberdade. A única solução para eles era a tomada do poder uma vez que toda a história tem sido a história de lutas de classes.

Pontos de vistas diferentes formaram ideologias diferentes, assim como no texto de Eric Hobsbawn: A era das revoluções, A ideologia secular (décimo terceiro capitulo), em que a ideologia religiosa sai de foco e entra o racionalismo, como por exemplo, no Iluminismo para entender as coisas através da história, buscando sempre uma razão. O Liberalismo clássico que acreditava que o avanço da sociedade era no capitalismo, “o progresso da produção de mãos dadas com o progresso das artes, da ciência”. Estes certamente descartaram as explorações dos trabalhadores, e a alienação que esta produção traria. Por fim surgiu o Socialismo, “a razão a ciência e o progresso eram suas bases firmes”. Para o socialismo era necessário derrubar os capitalistas para que a exploração sobre os trabalhadores fosse eliminada, entregando assim a liberdade a eles. Karl Marx foi “herdeiro” da filosofia alemã, dizia que a ideologia era uma falsa consciência no inicio de seus estudos, depois uma ideologia para ele era uma visão de mundo diferente. Classes diferentes, visões de mundo diferentes. Hoje a televisão tornou a massa muito mais alienada, a pessoa chega do trabalho depois de um dia estressante, e se “hipnotiza” com diversas propagandas, telenovelas e outros, que mudam sua maneira de ver as coisas e de interpreta-las.

Procurando ver de “maneira positiva” as diferenças sociais que existem na cidade Walter Benjamin em seu texto: Paris, capital do século XIX, o autor coloca o avanço da tecnologia na utilização do dia-a-dia, as construções de galerias, ferrovias, o surgimento da fotografia e a industria da diversão (que causava uma grande alienação), os Saint-Simonianos não conseguiram prever porem as lutas de classes, só enxergavam a evolução da economia mundial. Todos estes avanços tecnológicos não puderam ser usufruídos por todos, os pobres não iam ate a galeria, os trens de viagem eram e ainda são separados por classes. Toda linha produção fez com que objetos fossem produzidos igualmente, fazendo com que as pessoas se vestissem iguais, tivessem carros iguais, e os produtos diferentes eram e ainda são os mais caros, não só materialmente, mas intelectualmente, os pensamentos não se diferem uns dos outros, as pessoas mais alienadas passam a pensar igual também.

Na cidade encontram-se cada vez mais pessoas, mas ficamos cada vez mais sozinhos, muito se refugiam na internet, conversando com pessoas que nunca viram do outro lado do mundo, e nem dão bom dia ao visinho. Não só conversando, mas também se trancando em casa, saindo cada vez menos, fugindo da violência causada pelo desemprego e o descaso da burguesia para com trabalhadores pobres.

Certamente as condições daquele tempo não se diferem das condições de hoje, ao menos pelo fato de que leis trabalhistas foram criadas, o que não garante que continue existindo escravidão em fábricas de diversas cidades, em diversas fazendas. Vários trabalhadores não sabem dos seus direitos, muitas vezes trabalhando ilegalmente e vendo que tem milhões de outros esperando uma vaga, muitos aceitam um emprego sobre quaisquer condições, pois passa necessidades, vêem sua família passando fome e qualquer coisa que surgir já é “uma benção”. A cidade moderna com toda a evolução tecnológica foi e ainda é um paradoxo, com toda a sua desigualdade.

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